Liberdade para todos aqueles que nos sentem

Por Kauan Willian*

Só serei verdadeiramente livre quanto todos que me cercam sejam livres


Mas ora, quem me cerca? Quem poderia estar me cercando e foi tirado de mim, da minha presença, de forma física ou mesmo se tornando invisível aos meus olhos e aos meus sentidos, não merece ser livre?

Há algum tempo homens poderiam achar que só estavam sendo cercados por homens, e por isso, esses que deveriam ser livres. Posso lutar e avançarmos, mais ainda resta muito, para incluir todas as mulheres. Posso lutar e avançarmos, mas ainda também resta muito, para incluir pessoas que historicamente foram subjulgadas pela sua “raça”. Posso lutar e avançarmos, mas ainda também resta muito, para incluir pessoas que historicamente foram subjulgadas pelos seus “desvios” do amor e do corpo.

Mas quem mais nos sente? Retomando alguns saberes originários que nos foram tirados pelas máquinas e pelas cidades, e invertendo a lógica do homem no centro do universo, chegamos a uma resposta: o planeta, o universo, o infinito, e todos os seres que sentem, que compartilhamos todas as coisas e estamos conectados. E ao aprisioná-los, também nos aprisionamos. A liberdade é algo relacional.

Pois bem, muitos dizem que não podemos acabar com a dominação de gênero ou de raça sem alterar as formas estruturais, materiais e discursivas de opressão. Só serei livre quando o outro for livre, certo? Mas ninguém que defende isso, e graças aos poucos que fizeram muito, que podemos ser dominadores de gênero ou de raça de forma consciente, não é? Todos sabemos que mesmo sem alterar o machismo estrutural, por exemplo, devemos lutar e não fazer violência doméstica.

Mas por que isso não acontece com o resto que nos cerca e que compartilham esse planeta com os ditos seres humanos e, mais do que isso, podem sentir medo, dor, fome, anseios e tudo mais? A exploração do planeta, e dos animais, evidentemente, só vai acabar com uma mudança estrutural, relacional completa, mas enquanto lutamos por isso, a carne do seu prato não deixa de ser um corpo que sofreu e morreu, que fez com que alguém a matasse (e se traumatizasse com isso) que matas fossem derrubadas e outros animais mortos pro cultivo de pasto, etc. Nesse caso a relação é direta.

Se a liberdade do outro estende a minha ao infinito, temos que pensar agora, treinando o mundo de amanhã, ao mesmo tempo que nos organizamos com outros para findar as estruturas, tirar também violências dos nossos pratos, vestimentas, e consumos. Quais seres que nos sentem são violentados nesse processo e o que podemos fazer para libertá-los e nos libertar?

Não deixe para depois a violência do seu consumo



*Kauan Willian – socialista libertário, educador popular e antiespecista

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