Fernanda Grigolin*
Ana olha no espelho e vê o barulho do mar. Igual ao da concha da infância. A concha era a herança: dela e de todos da casa. O último registro da partida. O rosa lilás do passado.
O professor afirma: hoje a arte é numérica. Os computadores e as pessoas produzem pensamento.
Ana se recorda da mãe dentro do barco feito Limite. Olhos no primeiro plano. Pai, nenhum movimento. Foi um dia de verão. Praia lotada, passeio no mar e janta da vó.
Ana leva um cutucão.
O professor continua: No capítulo trinta do livro, o autor se refere à diferença da arte e do artesanato.
As palavras grudam nas coisas.
Ana o que mais espera é a morte da lembrança. De seus objetos e suas imagens. Nem nas máquinas, deveriam sobreviver.
O professor insiste: a primeira experiência tecnestésica brasileira é o cinema de Mario Peixoto. O silencioso e o monocromático são o futuro.
Ana quebra a concha. O mar invade o carpete.
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Fernanda Grigolin está sempre em trânsito, escreve, edita e traduz
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