Nutrindo revolucionáries

por Lilian da Silveira*

Em meio deste caos instalado, pandêmico, desesperador, que leva vidas de milhares como se não fossem nada, aprendemos que é nós por nós, estamos repletos de tristeza, de raiva, de amor e de ódio… Pois só queremos viver bem com a certeza de que outres também podem.

Avante, camaradas

Que não deixemos o sistema adentrar mais em nossas corpas,

Que possamos expurgar todas as amarras que fomos obrigades a aceitar desde criança,

Que a violência naturalizada não seja justificada,

Que em nosso peito continue a revolta nutrida pelo apoio mútuo, pela organização, pelo senso de equidade, pela vontade de abrir portas pra quem quer se libertar.

Que possamos abrir espaço para vários mundos, porque desde que mundo é mundo, tem gente violentando, destruindo, desmatando muitos seres, desde nossa espécie até aquelas menos similares, que não respiram como nós, mas que habitam o mesmo planeta precisando do mesmo ar.

A nossa saúde foi vendida como mercadoria, mas ela é um direito básico

Os trabalhadores da saúde e da limpeza, que servem nossos pratos, que colhem nossos lixos, que são servidos como comida, estão precisando de nós.

Organizem-se

Que nossa revolta se torne combustível pra nossa autonomia, pra nossa solidariedade, pra nossa ação direta diária, que não esqueçamos de nossas bases, da educação e da paciência.

Que nossa luta não se resuma a nossa espécie, pois ela contempla ecossistemas, contempla vidas que estão sendo massacradas pelo poder.

O mesmo poder que dita o conforto pra minorias enquanto vangloria o sacrifício do trabalhador em nome da economia.

Vidas não são lucros, não são recursos, não são pra servir

Que possamos nutrir nossa revolução, não só com revolta, mas com soberania alimentar, autonomia, apoio mútuo… especialmente entre diversas funções.

Garis, serventes, auxiliares, técnicos, recicladores, cozinheiros, plantadores, coletores, agricultores, cuidadores… onde estão essas pessoas em nossas pautas? Elas sabem que podem se libertar, sabem que também poderiam ser artistas, professores, médicos, ou nada disso e ainda assim serem livres?

Precisamos lutar pela nossa saúde num mundo em que aprova leis pra envenenar a população, que nos divide enquanto trabalhamos e tentamos sobreviver.

Quantos podem se nutrir não só de comida, mas de arte, de lazer, de ar puro, de descanso?

Será que estamos nos nutrindo ou sendo alimentados pelo veneno da coerção e sentindo os efeitos colaterais de oprimir outres?

Lutamos cooperando, pela liberdade, equidade, quando nos acolhemos e procuramos entender, quando nos damos um tempo pra respirar, pra descansar. Que possamos nutrir os nossos, os outros, as bases, as lutas, a revolta, em vários espaços, trocando saberes, aprendendo e ensinando, cuidando de nossa saúde como resistência ao vírus fascista que nos assola, nutrindo nossa alma de suporte.

Que nenhuma vida seja explorada pra nossa nutrição revolucionária

Convido a todes a repensar a alimentação especista, envenenada pelo poder do estado, do capitalismo, do agro, corroendo nossas corpas, nossa vida, que naturaliza a violência de trabalhadores do campo e de animais não humanos, colocando ecossistemas na extinção junto com o ar que nos resta respirar! As outras espécies vieram para seus próprios fins, não para nos servir, não para serem mercadorias. Assim como lutamos pela libertação da exploração da nossa força de trabalho, podemos lutar pela liberdade e equidade de outros seres.

Lilian da Silveira é antiespecista, vegana, comunicadore no canal do YouTube Alilianigena, membro do @bukedeespertirina

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