INDELEGÁVEL

Por Larissa Tokunaga*

Lavrar essa palavra
Até que ela floresça
Me desfaço de suas travas
Que a parresia não feneça

Eu faço desfeita
Do poeta afano a pena
Não me escrevo sujeita
Temo termo que apequena

Não me emudeça
Com discurso edulcorado
Não há saber que impeça
Meu desvio descarado

Sou errante de alma nua
Não peço referência
Singular, e nunca sua
Ao dissenso a reverência

Vou narrar sem urdidura
Navegar sem timoneiro
Sem pedir sua mesura
Eu esgoto meu tinteiro

Profano o seu sermão
Pode tentar me eclipsar
Aquiescer não é uma opção
No devir eu quero estar

Prefiro ser libelo
bastião do sentimento
Um manifesto singelo
no arrepio do momento

Vislumbro a erosão
de seu mundo abusivo
Ser afeto em efusão
Em meu gesto incisivo

 Indelegável é meu lugar
 Seus grilhões já não engulo
Tão pueril o seu adjetivar
Empoeirado púlpito: vou pular!

Sua métrica não me mede
Sua moral não me doma
Sua censura não me impede

Em cesura
me evado
da redoma

Larissa Tokunaga: anarquista e doutoranda que verseja em horas vagas.

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