Rebeldia aos fracassos que floresceram

Por Weverton da Silva*

Muito me interesso pela história dos perdedores, dos fracassados, dos maliciosos e debandados. Em contrapartida, o tédio me consome com as narrativas dos vencedores, daqueles que nunca levaram porrada. De que me interessa Ronald Regan com seu penteado perfeito e seu profundo amor pela liberdade que só o norte americano cristão tem, se posso reconhecer em Marighela um colega próximo que admira uma boa batida de limão? Que me importa Thatcher e seu alto controle de ter tudo para si, se tenho Rita Lee que atualmente diz não querer controlar mais nada? De que me serve a austeridade de Deus se a malevolência de Exu Caveira é muito mais instigante? Qual a importância de Beethoven e Heidegger que carregam o rosto da elitualidade comparados à Mc Carol que bundifica a pragmática do ser?

São muitos os exemplos de uma rebeldia fracassada que só floreia os campos do caos social, influências que pervertem o pensamento aqui e acolá, que fazem escrever, cantar e correr. Ouvi recentemente de um amigo nada próximo que aquilo entendido como subdesenvolvimento não é um processo de transição até o ótimo desenvolvimento, mas sim o debatimento criativo e existencial dos povos nos territórios: a alegria genuína da chanchada frente ao blábláblá dos cinema novistas, os afetos tristes do brega ofuscado pelos nomes Chiques de fulano, beltrado e Caetano.

Um germano meio polêmico e doente escreveu que pessoas muito saudáveis jamais terão a boa saúde, os críticos dizem que ele romantiza a doença, eu digo a eles: vocês precisam adoecer. Alegra-me cada nova narrativa que descubro sobre o fracasso, o erro, a tentativa.

Quantas histórias de grandes revoluções nos são ensinadas?  Quantas pessoas enchem a boca e o lattes com prazer para dizer que a sabem suas nuances de ponta a ponta, e mais, querem novas revoluções? Mas quantas insurreições, motins, quebra-quebra e provocações cotidianas desconhecemos, que nos passam pelo sentido, mas que são afetos entre Zé e Raimundo, Carolinas e Terezas que há muito se cansaram de guerras?

São estes, e apenas estes, quem merecem minhas flores.

Weverton da Silva: falso anarcopunk, pseudoescritor e zineiro.

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