Véus, panos, (des)velar-me

Hijab, niqab, burqa, lenço, véu, pano, cobertura

Por Francirosy Campos Barbosa*

A pertença religiosa passa pelos símbolos, eles significam a essência que nos permeia em comunhão com nossa identidade.

Olho para o meu lenço azul, escolho o vermelho. Ah! Hoje preciso de energia, vermelho me dá força. Será?

No fundo dos cabides desalinhados encontro meu vermelho preferido, ele tem umas bolinhas vermelhas, prendo o cabelo.

Não sei o tecido, não entendo de panos, entendo de véus.

Véus que cobrem os pensamentos, cobrem os olhos – Nop.

Cobrem as cabeças, só não nos cobrem de Deus.

Deus vê tudo minha filha!

Vê o que os outros não vêem… Deus é Onisciente.

A experiência de cobrir é única, é sólida, tem um coração que gira.

Desisto da cor vermelha, hoje vou de branco. Branco é paz? Não sei…

Talvez o branco me inspire a conter meus pensamentos. Será?

Verdade o véu não contém meus pensamentos, nem sentimentos, o véu segura minha vaidade, não sei, não sei… véu não é coisa de gente santa!

Olho para os cabides, olho internamente e sigo indecisa, seria um pano um objeto que me faz quem eu sou? Siiiiim, mas não é a cor, nem o modelo, mas o que ele significa…

Volto ao vermelho e penso: hoje é dia de empoderamento.

Maria, Khadija, Aisha, Fatima foram empoderadas, tiveram seus véus, suas coberturas, seus pensamentos…

Mas hoje cobrir-se é feio! É opressor! Para quem? Para quem não sabe se isso significa para outra mana…

Feminismo estranho? Sim… muito estranho… um feminismo que quer dizer como a outra tem que ser… hum, isso é péssimo!

Ah, então vou colocar a cor do feminismo, este lilás aqui… me representa. Assim elas entendem que posso lutar pelas mulheres de véu e está tudo bem, está tudo certo.

Saio na rua de lenço lilás… com brilho, ah sim, o brilho precisa, porque só o lenço não chama a atenção, modéstia que chama, né?

Não sei, só sei que é assim, controvérsia pura… se é para ser modesta, por que o brilho?

Sabe o que é… eu gosto de brilho, de dourado…

Entendi, está tudo bem, cada um gosta do que quiser.

Deixa eu te perguntar uma coisa: seu marido te obrigou a usar isso? Nop

Se você não usar vai apanhar? Nop

Você toma banho de véu? Nop

Você dorme de véu? Nop

Acabou? Sim… Véu é para sair à rua, é nossa imagem pública, nossa imagem privada é igual a todas as outras mulheres… Não se preocupe é só um lenço na cabeça.

Entendi.

Está tudo bem… o emprego é seu.

Obrigada!
Salams

Francirosy Campos Barbosa é antropóloga, mãe, feminista, muçulmana e esquerda raiz.

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